Decorria o ano da graça do nosso Senhor de 1917. Era um mês de Julho bastante agradável, nem muito calor, nem muito frio. A temperatura ideal para um passeio nas margens do Sena, não fosse a Europa estar a ser lavrada por uma guerra como nenhuma outra.
“Claro! Não são todas?!” Foi a ideia que passou pela cabeça do 2nd Lieutenant Gerald William Ferguson após receber a informação de uma missão de máxima prioridade e de extremo secretismo, através de um estafeta do 16Squadron da Royal Flying Corps (RFC). Bebeu de um trago o conteúdo do seu flûte de champagne Dom Pérignon cuvée de prestige, olhou nos olhos da voluptuosa parisiense que o acompanhava, sorriu e disse:
– Dias não são Dias, e nos tempos que correm o futuro não nos pertence…
Ao que ela lhe respondeu:
– Mon cher, não precisas de dizer mais nada, sei perfeitamente o que estás a pensar, vamos tratar de virar mais uns canecos deste néctar dos deuses e depois vamos até ao quarto do hotel que isto de andar no engate cansa…
(Mas que raio pensavam vocês agora? que isto ia ser um romance? e que tal arranjarem vida própria? Continuando com a descrição do jogo de Wings of War que aconteceu no passado dia 16 de Setembro de 2012.)
O vento soprava por entre os campos de papoilas, o vermelho das suas pétalas contrastava com o verde e as cores de matiz claro que as envolviam. Tempo de colheitas. O Flight Sub-Lieutenant Aubrey Beauclerk Ellwood observava o fenómeno enquanto se recordava de uma bela tarde que tinha passado com a Tatiana por detrás do coreto lá do burgo onde cresceu. Encontrava-se tão absorvido na sua contemplação que não se apercebeu de um carro preto que se acercava.
Dele saíram 2 figuras bastante características, um alto e entroncado, o outro baixo e barrigudo. Foi o bater das portas que fez Ellwood regressar à realidade. Quando os viu, logo os reconheceu realizando que a vida não lhe iria sorrir! “Certamente mais uma missão do arco da velha!”
Pouco tempo tinha passado desde a hora de almoço no aeródromo avançado, cerca de 30 km separavam as casernas dos pilotos das enlameadas trincheiras onde os “pobres desgraçados” infantes passavam as passas do Algarve.
O 2nd Lieutenant Ferguson, o seu observador, o 2nd Class Air Mechanic Fry e o Flight Sub-Lieutenant Ellwood tinham acabado de receber as indicações relativas à missão “top secret” e “extreme priority” que os esperava. O alvo localizava-se nas seguintes coordenadas N 39º 17′ 17.63”, W 8º 44′ 23.86”, uma fábrica de processamento de resíduos provenientes da industria suína, transformada para o fabrico de armas químicas. Armas que estavam a contribuir para o desequilíbrio da balança para o lado dos poderes centrais.
“Mas está tudo maluco? Mas acham que só 2 aviões são o suficiente para limpar com aquela estrumeira?” proferia exasperado o 2nd Lieutenant Ferguson. “Vocês ao menos sabem o que é que se situa perto dessas coordenadas?”. Não era nada mais anda menos que o aeródromo de onde partia o novíssimo Fokker DR.1 do Rittmeister Manfred Von Richthofen, um avião ainda em fase de integração nas forças da Luftstreitkräfte, mas que já tinha provado o seu valor e superioridade face a grande parte das aeronaves ao dispor da RFC e restantes forças da Entente.
Para juntar à festa, o sangrento mês de Abril não tinha sido simpático para as esquadras de aviação da RFC, encontrando-se estas bastante desfalcadas.
O homem alto e entroncado responde-lhe para ter calma que a situação estava sobre controlo e que já tinham sido tomadas acções para responder a essa necessidade. Tinha sido solicitado o apoio da 65e Escadrille da Aéronautique Militaire, tendo esta enviado nada mais nada menos que o grandioso às, em ascensão, Sous Lieutenant Charles Nungesser, com o seu magnifico, mas já ultrapassado, Nieuport 17.
Com a força de ataque reunida:
O plano de batalha foi revelado:
_____________________________________________________________
As paredes encontravam-se revestidas com cartazes a apelar à união nacional, ao patriotismo e ao sacrifício pelo império e pelo Kaiser. Havia alguma humidade, o tempo não era dos mais felizes, muito nebulado, e o orvalho matinal em nada contribuía para a melhoria das condições de habitabilidade. O sol avizinhava-se por detrás dos montes.
O jovem operador do telegrafo dizia mal da vida dele quando a máquina começa a dar sinais de vida. Após receber a totalidade da mensagem analisa-a e pensa “mais uma mensagem que não tem significado nenhum, estes gajos não têm mais nada para fazer na vida do que me atazanar?”, relutante levanta-se e dirige-se ao oficial de comunicações para lhe entregar a mensagem.
“Quando é que recebeste isto?” questiona o oficial? Ao que o jovem operador de telegrafo lhe responde prontamente “Agora mesmo, senhor.”. Era uma mensagem codificada contendo a informação do ataque que as forças aliadas se preparavam para efectuar nesse mesmo dia nas primeiras horas da manhã.
O alarme suou e o leutnant Werner Voss levantou-se com bastante relutância da poltrona onde repousava após uma noite bem passada no bar dos pilotos. “Alguém anotou o nº de matrícula da carroça?” pensava enquanto bebia um copo de água, para aclarar as ideias. Levantou-se, vestiu o casaco de piloto, deslocou-se até à porta de saída e entrou na neblina matinal.
“Eles aproximar-se-ão das nossas 2 horas.” afirmava Von Richthofen, o Barão Vermelho. O tempo estimado para a chegada das aeronaves inimigas acercava-se. Os mecânicos já tinham sido alertados e os aviões alemães já se encontravam em aprontamento.
“Opa, como dizia o outro – Isso morre tudo!” comentava o Oberleutnant Ernst Udet enquanto agarrava nos seus óculos de voo e dava um trago na schnapps que se encontrava em cima da mesa. “É para aquecer as articulações! Já a minha avó dizia!”, quando se viu confrontado pelo olhar inquiridor do Barão Vermelho.
Recolheram o equipamento de voo e abalaram para fora do edifício em direcção aos aviões que os esperavam, com um aspecto e uma vontade predatória.
Pelo caminho cruzam-se com o leutnant Voss, que caminhava com um aspecto vergonhoso enquanto dava largos tragos na garrafa de água que empunhava.
“Bem, calculo que não te interessem os pormenores do plano?” comentou o Oberleutnant Udet. Ao que Voss se limitou a acenar com a cabeça. Era um jovem piloto que contava já com 34 vitórias confirmadas aos comandos do seu fabuloso Albatros D.III.
Os 3 aviões encontravam-se alinhados perto da pista. A missão deles era de vida ou morte. Deveriam defender a fábrica com unhas e dentes.
_____________________________________________________________
Os aviões alemães iniciam o jogo perto do objectivo que deveriam defender, o Albatros D.III do leutnant Werner Voss e o Albatros D.Va do Oberleutnant Ernst Udet no flanco esquerdo enquanto o Fokker DR.1 do Rittmeister Manfred Von Richthofen defendia o flanco direito da fábrica sozinho. A sua reputação assim o obrigava.
Os pilotos da “entente” a bordo das suas máquinas infernais apresentaram-se com o Nieuport 17 do Sous Lieutenant Charles Nungesser pelo flanco esquerdo, o Sopwith Camel do Flight Sub-Lieutenant Aubrey Beauclerk Ellwood ao centro e o Bombardeiro RAF RE 8 do 2nd Lieutenant Gerald William Ferguson e do 2nd Class Air Mechanic Fry, com a preciosa carga explosiva que permitiria o cumprimento da missão com sucesso, no flanco direito.
_____________________________________________________________
O céu nublado sofria com a passagem das aeronaves que se preparavam para um importantíssimo embate que poderia alterar significativamente o desenrolar do conflito que assolava a Europa.
Os Albatros alemães percorreram com a máxima velocidade possível o flanco esquerdo com o objectivo de cortarem a passagem do bombardeiro que se aproximava ameaçadoramente do seu objectivo. Este ao observar a aproximação das aeronaves inimigas procura desesperadamente o apoio dos seus camaradas de armas.
Ao mesmo tempo que estes movimentos decorriam o Barão Vermelho posicionava o seu triplano de modo a poder contabilizar nova vitima para o seu grande historial. “Ora bem, na pior das hipóteses volto para a direita e corto a passagem do bombardeiro e apoio o ataque daqueles dois trambolhos”, cogitava Von Richthofen.
_____________________________________________________________
O Flight Sub-Lieutenant Ellwood observou as manobras dos seus adversários e posicionou o seu ultrapassado Camel de maneira a cruzar a trajectória do Barão Vermelho e tentar a sua sorte cravando o triplano de chumbo. “Querem ver que sou eu que vou haviar o Insigne Barão?”, sonhava Ellwood ao mesmo tempo que primia o gatilho das suas twin synchronised Vickers guns, inflingindo 3 pontos de dano na estrutura e no motor do, já fragilizado (8 pontos de dano), triplano.
“Querem ver que este gajo está com a pica toda?” pensou Von Richthofen enquanto se preparava para mais uma arriscada e ousada manobra que tanto o caracterizavam.
_____________________________________________________________
As manobras dos aviões alemães levaram-nos a posições bastante favoráveis de modo a poderem proceder a um ataque mortífero contra o pesado e lento bombardeiro inglês.
O Albatros de Voss preparava-se para tomar uma posição predatória contra o seu primordial objectivo, o bombardeiro RAF RE 8, ao mesmo tempo que Udet e Von Richthofen voltam para se acercarem e encurralarem a sua presa.
O Sous Lieutenant Charles Nungesser com o seu novíssimo Nieuport 17 passava pela sangrenta batalha como cão por vinha vindimada. Certamente o seu objectivo no presente conflito seria testar a máquina e não entrar em atritos chatos e aborrecidos.
Ellwood pressionara de mais a sua máquina e não teve oportunidade de manobrar o seu camel para uma posição que lhe permitisse culminar o que tentara! Abater o Barão.
_____________________________________________________________
Ao observarem que a sua presa se apresentava de uma maneira tão acessível o Oberleutnant Udet e o Barão pressionam os gatilhos das suas twin Maschinengewehr 08.
e conseguem o grandioso feito de abaterem de uma só passagem o flagelo que poderia assolar o resto das suas vidas.
Por sua vez o 2nd Lieutenant Ferguson tenta a sua sorte e concluir o que o Flight Sub-Lieutenant Ellwood não conseguira: Abater o Rittmeister Manfred Von Richthofen, mas a sua posição não era a mais favorável e somente conseguiu infligir um ponto de dano no já debilitado triplano.
_____________________________________________________________
Os pilotos alemães tinham, por agora, conseguido cumprir a sua missão: proteger a preciosíssima fábrica.
Era tempo de regressar ao aeródromo para procederem a reparações e tomarem o tão merecido pequeno almoço. As salsichas e o café quente esperavam por eles na messe.
Os restantes pilotos da “entente” ao verem o bombardeiro, que lhes permitiria cumprir a missão, despenhar-se contra o solo constatam que tanto o piloto como o observador saiam, aparentemente, ilesos dos destroços.
“Estes hunos não esperam pela demora” vociferava Ellwood enquanto se dirigia para as linhas amigas com o intuito de procurar apoio para resgatar os seus camaradas.
_____________________________________________________________
A batalha já decorria há uns bons minutos! Aparentemente o narrador dos acontecimentos esqueceu-se da sua função! Devia estar muito ocupado a fazer algo…
O 2nd Lieutenant Gerald William Ferguson e o 2nd Class Air Mechanic Fry tinham sido resgatados numa atribulado e perigosa missão de “search and rescue” e já se encontravam a bordo de novo bombardeiro, munidos de uma força de vontade hercúlea e uma fé inabalável no seu objectivo, mesmo após terem presenciado o Nieuport 17, do camarada de armas Sous Lieutenant Charles Nungesser, ser abatido sem dó nem piedade pelos pilotos hunos.
“Fry, é assim mesmo!” gritava o 2nd Lieutenant Ferguson para o seu observador, momentos após este ter conseguido abater o Albatros D.Va do Oberleutnant Ernst Udet. Mas para grande desgosto de Ferguson o embate que decorrera minutos antes fora o suficiente para que se distraísse momentaneamente do rumo que o seu RAF RE 8 estava a levar e quando deu por si, o objectivo passava ao seu lado esquerdo!
“Raios! O objectivo tão perto e agora tenho que dar uma volta do camandro!”, vociferava Ferguson enquanto se preparava para efectuar uma volta para o seu lado direito.
“Fry, consegues ver alguém na nossa cauda? Fry, não me ouves?” Quando olha para trás verifica que o 2nd Class Air Mechanic Fry pendia inanimado sobre a metralhadora que utilizara para abater o avião alemão. o Oberleutnant Udet ao ser abatido conseguira simultaneamente infligir danos mortais no bombardeiro inglês.
Ao mesmo tempo o leutnant Werner Voss aos comandos do seu Albatros D.Va lutava freneticamente para se libertar da perseguição que o Flight Sub-Lieutenant Ellwood, a bordo de um Sopwith Camel, lhe fazia.
Von Richthofen acabar de efectuar mais uma das suas manobras arriscadíssimas! Daquelas que o distinguiram dos restantes pilotos! (Pensava Von Richthofen para si mesmo – “Epá este jogo tem manobras bastante reais! uma pessoa tem que virar as cartas para poder ter a certeza de que é esta manobra que pretende!” – resumo do pensamento e das consequentes acções – Queria voltar para a direita e acabou por escolher uma carta de manobra que o obrigou a virar para a esquerda! – sem comentários!)
Voss conseguira livrar-se do assédio que Ellwood lhe promovia, a vida voltara-lhe a sorrir.
“Caragos para isto! Este animal é mesmo bom naquilo que faz!” praguejava Ellwood enquanto se cruzava com o bombardeiro dos seus camaradas de armas, que ia a meio da volta de modo a permitir uma passagem exactamente por cima do objectivo a bombardear.
Von Richthofen concluíra uma manobra de Immelmann que lhe permitiria cortar a trajectória que o 2nd Lieutenant Ferguson planeara para concluir a missão.
Ferguson estica ao máximo os 150 cavalos do motor do bombardeiro, “ou vai ou racha! Desta vez não escapa, o objectivo está próximo”.
O barão conseguira o que pretendia, um posicionamento perfeito para poder metralhar e tentar abater o avião inglês, negando uma vez mais o sucesso aos pilotos inimigos. Prime o gatilho das suas metralhadoras, mas o resultado foi bastante insatisfatório, após todo o barulho proveniente das suas costureiras spandau, o bombardeiro inglês permanecia inalterado na sua vontade de concluir a missão.
O albatros de Voss concluira com sucesso mais uma manobra de Immelmann, o seu posicionamento era perfeito para metralhar impiedosamente o avião de Ferguson. Aproveitando a velocidade conferida pela manobra e exigindo toda a potência possível no motor mercedes que equipava o seu avião encurtou consideravelmente o hiato que os separava. A distância era a ideal para o correcto funcionamento das suas metralhadoras. Voss dispara as suas armas sem dó nem piedade para com os objectivos do 2nd Lieutenant Ferguson.
Von Richthofen, como uma ave de rapina, continua a perseguir a sua presa, com o duplo objectivo de impedir o bombardeamento da fábrica e engrossar o seu numero de vitórias.
Ferguson sente trepidações na estrutura do seu avião, “aguenta-te que o dia de hoje ainda será nosso!”. Enquanto o Sopwith Camel de Ellwood se prepara para retirar do campo de batalhar com a sensação de que a missão estaria prestes a ser cumprida.
Mas o debilitado avião de Ferguson já não resistiu a mais um ataque da aviação inimiga, literalmente morreu na praia. A vitória, mais uma vez, não escapara às forças centrais. Embora um dos seus camaradas tivesse sido abatido, o saldo final foi positivo. MISSÃO CUMPRIDA.
Os aviões alemães regressam para a sua base, com sensações contrastantes, a alegria de cumprirem a missão, mas ao mesmo tempo um sentimento de perda pelo camarada abatido. A batalhar tinha sido bastante exigente, como se pode ver pelos danos infligidos ao lado alemão:
_____________________________________________________________
Fergusson retira-se dos escombros de mais um bombardeiro, desta vez com o seu camarada e amigo Fry entre braços, afinal ainda respirava. “Fry eles não esperam pela demora! Enquanto existirem ingleses com a tua fibra e resistência esses cães hunos não prevalecerão!”
“hum…..isso e couves lombardas!” foi a resposta do 2nd Class Air Mechanic Fry.
_____________________________________________________________
FIM.
autor: Emanuel Dias